• Re-Voltando

SumaIrracional

~ A Razão da Irracionalidade

SumaIrracional

Arquivos Mensais: junho 2011

Nova Banda – Feint Ágatha

30 quinta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Uncategorized

≈ 5 Comentários

Leitores nossos, como dissemos desde o começo, este é seu espaço. Se você faz alguma arte, aqui não tem rigorosidade estética, nem somos elitistas. Mande pra gente, que publicamos.

Abaixo, o primeiro single da banda Feint Ágatha, de Henrique de Almeida, um dos primeiros a comprar o Suma.

Aproveitem e ouçam. Baixem e divulguem se gostarem! Lembrem-se, hoje em dia a arte que vendemos e compramos é nossa. Apoiem Feint Ágatha! (Aos cariocas, uma dica, eles estão radicados no seu estado).

Até a próxima,

Jiló

Anúncios

Comentário de Tiago Buckowsky Xavier, sobre Preconceito, Ódio e Liberdade de Expressão

29 quarta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Humor Sem Limites

≈ 26 Comentários

Sou um defensor da Liberdade de Expressão. Para mim, ela é como a gravidez. Não existe meia gravidez; ou é inteira ou não é.
Nenhum tipo de restrição é aceitável para as idéias: nem mesmo às preconceituosas, antidemocráticas, racistas, sexistas, xenófobas, sanguinárias, revisionistas (por exemplo, para aqueles que dizem não ter havido o holocausto). Nenhuma ideia é inadmissível, até mesmo a mais aberrante, até mesmo a mais odiosa.

Isso não quer dizer que defendo essas ideias. Pelo contrário, eu as combato com veemência. Mas tenho certeza que a manifestação de preconceitos é resultado e não causa do sistema ao qual estamos submetidos, que é baseado na mercantilização e no lucro, no “fetiche do dinheiro”.

A melhor forma de combater essas ideias é deixá-las virem a luz, pois a proibição as torna atrativas e transforma em “mártires” os que são vítimas da censura. Não há nem bom nem mau uso da liberdade de expressão. A absoluta tolerância com todas as opiniões deve ter por fundamento a intolerância absoluta com todas as barbáries.

Deixo aqui a dica de umam ótima leitura sobre Liberdade de Expressão. É um livro chamado “Nada É Sagrado, Tudo Pode Ser Dito”, escrito por Raoul Vaneigem. O autor defende que até a besteira do “Mein Kampf” deve ser liberado. Melhor que circular clandestinamente na organização de grupos neo-nazistas. E antes que algum maluco venha me espinafrar, deixo claro que não é a propaganda nazista que se está fazendo aqui, porque “propaganda” implica em defender “ir às vias de fato”, ou seja, praticar a intolerância.

Sobre o babaca do vídeo, (não confundam esse tipo de babaquices com humorismo. Esse cara não é humorista. Ele apenas acredita nas besteiras que fala. Ele também não é cria de Rafinha Bastos, como o autor do vídeo deixou entendido.) é apenas um boçal que quer aparecer fazendo um vlog na internet e tem todo direito de fazê-lo e a ele deve ser dado todo o direito de falar seus absurdos. Não é a Liberdade de Expressão de um babaca que deve ser combatido, mas sim o preconceito existente na sociedade. Temos que tolerar as opiniões. O que deve ser alvo de intolerância é a barbárie.

Enquanto for um comentário, um discurso, uma polêmica, é apenas uma opinião – execrável, antiquada, condenável moralmente, mas opinião. Agora, este negócio de coletivo, “raça”, comunidades, nações, etc, sabem se defender, não precisa de iluminados para defenderem. Ação afirmativa sim; censura nunca mais. Não podemos perder o sono com baboseiras que não mudam nossas vidas. Mas perco o sono com o risco de que a liberdade que desfrutamos possa ser ameaçada. Nisto, não tem acordo. Ou se é a favor da liberdade de expressão, ou contra.

Sobre Preconceito, Ódio e Violência – “De Coração”

26 domingo jun 2011

Posted by sumairracional2 in DIVISA

≈ 13 Comentários

Arte de Beti Timm - Niedergeschlagen

Falar “de coração” é mais difícil. Gosto quando meu amigo Jiló expõe suas ideias aqui justamente por isso, porque falar “de coração” é mais difícil. O mundo vive, desde o fim do século XIX, “tempos interessantes” (Eric Hobsbawum). Nós temos, em geral, mais armas para vencer, conquistar e ganhar direitos. Mas temos armas para aniquilar toda a humanidade. Temos a capacidade de mobilizar milhões com digitais por uma tela de computador. Temos a capacidade de ensinar milhões a fabricar bombas e cometer as maiores e piores atrocidades. Temos a capacidade de inspirar milhões a amar. Temos a capacidade de ensinar milhões a odiar. E, em se tratando de milhões mobilizados por digitais singulares, individuais, mobilizamos, sem querer, bilhões, para lá e para cá, sem saber para onde exatamente vamos e guiamos. O nulo da grande rede virtual, o vácuo, cheio do tudo, cria o que acredito ser uma época muito mais do que pós-moderna: Vivemos a Era do Super Pós-Modernismo.

Ontem assisti a um vídeo que só recomendo a quem tiver estômago, do Bule Voador, o que me levou a sentimentos muito negativos, desejos negativos contra assassinos, maltratantes e criminosos de ódio; desejos que sei que sinto e sei que outras pessoas como vocês, leitores, sentem quando sentem que alguém foi violentamente injustiçado. Esse sentimento gerou este texto. Logo, o pensar também que “violentamente injustiçado” faz sentido, ou que haja quem mereça a violência contra si, o “justamente violentado”. Isso contradiz absolutamente tudo que disse antes, em todos os textos do Suma em que me posicionei sobre qualquer assunto. Se julgo a verdade pelos critérios de meus sentimentos contra atos de violência, minha verdade pode ser tão sinistra, tão selvagem, tão rude e tão cruel quanto a de quem sentiu, algum dia, que ser homossexual injustiçaria sua vida, e resolveu agir, por impulso ou outra ordem natural, contra homossexuais. É uma patologia, ou sintoma patológico: Eu quero o mal, mesmo, de quem violentou ou assediou sexual ou fisicamente a alguma mulher; quem espancou algum homossexual, negro ou simplesmente “não branco”, o que nunca se soube definir, de todos os modos; quem maltratou algum animal. Mal mesmo. Se eu disser quão mal, Jiló vai parecer Papai Noel.

Arte de Beti Timm - Sem Titulo

Através do Twitter, tenho acompanhado opiniões diversas de pessoas diversas sobre assuntos diversos. Antes disso, julgava mal o que era importante para as pessoas. Julgava incompleto, para o bem da minha total honestidade escriba. Hoje vejo que cada pessoa, cada um de nós, quer algo específico, mas que muitas de nossas causas mais banais, mais triviais, ainda permanecem absolutamente irresolvidas, e que no querer de alguns de nós, no Ego do Super Pós-Modernismo, muitas das causas que só nos beneficiariam morrem asfixiadas.

Dependendo do círculo que circulemos, veremos fragmentos tão ínfimos da “verdade”, que sempre nos espelharemos nos cacos que quebrantamos a viés e a direto. Na esfera onde esses fragmentos se mesclam, se únem e colidem criando mais fragmentos, a “verdade” torna-se impossível de decifrar. Podemos, claro, construir tendências, filosofias de vida, e até tentar interpretá-las. Acho que perdemos tempo demais, entretanto, pensando ou deixando de pensar. Tem certas coisas que são e pronto, ao menos se quisermos conviver em paz e erradicar de nossas sociedades os maiores males: a violência intra-humana, nossos complexos mal resolvidos, nossas estupidezes conjuntas, nosso medo um do outro… Sei que é complicado para cérebros individuais mais acostumados a assistir macaquinho sentando em banana na televisão o ato de compartimentar amores e ódios. Individualizar o amor e o ódio, aliás, ainda é algo que nós, animais pseudo racionais, não conseguimos fazer. Generalizamos em todas as camadas da sociedade: os bons, os maus, e os normais.

Eu só queria deixar claro que eu entendo: Entendo, depois de assistir a esse vídeo, porque muitas feministas pensam como pensam, e Lola se posiciona como se posiciona, contra tanta gente que fala de e sobre o ódio vibrante que existe em sociedades ainda machistas, ainda homofóbicas, ainda racistas e preconceituosas. Preconceito, enfim, é medo enrustido, é ânus piscando, é pipi na cama e é precisar de muita pílula azul para fazer o pengolim subir. Entendo, portanto, que haja o sentimento da necessidade de um movimento armado, mais agressivo, defensivo e alerta contra a misoginia, a homofobia, o racismo, o anti-semitismo e outros preconceitos cada vez mais estúpidos que criamos com a explosão de diversidades.

Mas discordo da violência e da censura, racionalmente. Não porque não sinta raiva, nem porque não sinta ódio, nem porque não seja humano. Não consigo mais assistir aos filmes sobre holocausto há muitos anos. Consigo, sim, rir de piadas bem contadas sobre absolutamente tudo, mas não consigo assistir a vinte minutos de um filme que mostra cenas de tortura contra qualquer espécie de ser vivo. Quem me conhece sofre com isso. Não consigo assistir aos noticiários regionais aqui nos Estados Unidos, e a quase nenhum noticiário inteiro brasileiro. Se Jiló pula, eu sáio da sala e vou ler alguma coisa ou brincar de médico comigo mesmo. Não aguento ver o que o governo, as cortes e formadores de opiniões bem assalariados e com enorme público pensam, realmente, e fazem, concretamente, contra seres humanos em sua própria terra. Mas discordo…

Arte de Beti Timm - Beija-me

Discordo que ser como eles na patologia e seus sintomas, que querer a morte deles, que agir contra a integridade física deles, seja de alguma valia a qualquer causa que queira avançar. Discordo que impedir suas manifestações, fazer petições contra as palavras até mesmo dos maiores calhordas (inclusive os que considero inocentes e palhaços), ou viver a vida em função de calá-los seja o ideal para chegar à máxima da igualdade e liberdade que todos precisamos para começar do ponto zero, e aí sim falar sobre o que queremos e o que pensamos – aliás, aí sim ter tempo para parar e pensar. Discordo que precisemos disso para vencer*.

Precisamos, sim, de uma defesa formal e um sub-universo estruturado. Precisamos, sim, de uma força armada real, concreta e concisa, em torno de ideais máximos. Talvez até precisemos juntar as causas, todas elas, em uma só panela, e criar uma classe massiva (mais sobre isso no Suma Hiato, Quinta Feira), a classe dos Discriminados, Violentados e Sofredores de Adversidades (DIVISA), que exista, porque somos humanos, e porque precisamos começar a construir ao invés de destruir. Se calarmos o ódio, o ódio continuará fervendo na mente dos vís e imbecís, e tudo o que ferve, explode. Se plantarmos amor, concreto, fora das telas do Twitter, de verdade, talvez consigamos ao longo dos séculos, esperançosamente antes, diminuir intensamente a quantidade e qualidade dos psicopatas de plantão.

Sempre existirão, é verdade. Por isso não podemos nos desarmar. Precisamos de justiça verdadeira. Precisamos de polícia verdadeira e, se não a temos, precisamos sê-la. Acho, ainda assim, que podemos policiar pelo bem. Sei que sobreviveremos. Talvez nem todos, mas sei que sobreviveremos.

De coração,

Roy Frenkiel

* Entendo perfeitamente que essas petições existam, e acho que cada pessoa sabe o que faz, e acho que quem faz, faz geralmente com boas intenções. O que me incomoda é que, se algo verdadeiramente preconceituoso foi dito e ouvido e assistido e lido por milhões, o que uma petição pode fazer? Deixar de que tenha sido dito, ouvido, assistido e lido por milhões? O posicionamento político, ideológico e humanista, acho, muitas vezes tende ao negativo: Proibir, cortar, tentar apagar e esquecer, e sempre há o outro lado, que se defende do corte, do apagão e do esquecimento de qualquer ideia, mesmo que seja o lado errado. Penso que precisamos, normativamente, começar a construir, escrever mais, super popular o grande cenário do Hiper Pós-Modernismo. O que existe, tanto preconceito quanto minorias, existe. Precisamos aprender a lidar com isso sem a necessidade de matar ou calar ninguém.

** Racistas, homofobicos, misóginos e anti-semitas de plantão, enrustidos ou fora do armário: Discriminar o ódio que vocês sentem não constitui discriminação. Vocês serão esmagados pelo povo, um dia, isso é fato. A roda da vida sempre gira. Violência contra vocês é reação a ação que vocês geram, não culpem sintomas que vocês criaram. Podem criar seus exércitos e levantar suas armas. Não sejam covardes. No nosso grupo, nosso acróstico, só cabe quem deixa o ódio na porta, entretanto. Boa sorte quando não houver ninguém mais ao lado de vocês.

Rafael Mazzi e A Turma da Comédia – Entrevista

23 quinta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Humor Sem Limites, Uncategorized

≈ 15 Comentários

Tags

Belo Horizonte, Brasil, Capital dos Bares, Humor, Humor Negro, Rafael Mazzi, Roy Frenkiel, Turma da Comedia

As opiniões do entrevistado são do entrevistado, e não refletem as opiniões do Suma Irracional, bem como as opiniões do Suma Irracional são do blog e não do entrevistado, à não ser que haja explícito acordo de ambas as partes. A entrevista foi editada em adaptação à concordância gramatical do Suma. Se encontrar erros ortográficos, culpe o blog.

Rafael Mazzi é ator, humorista e standupista, “palestrante e publicitário”, como menciona em seu perfil do Twitter e, o mais importante, fundador d’A Turma da Comédia em 2008, ao lado de Thiago Alves, também ator e humorista (veja mais sobre os integrantes e a Turma). É profissional há mais de quinze anos, e seu grupo é o segundo de Stand Up Comedy de Belo Horizonte. Em 2007, surgia a primeira trupe da cidade,” Queijo, Comédia e Cachaça” e, no ano seguinte, a Turma foi criada. Mazzi está claramente involuncrado na essência belorizontina do estilo que, de modo discreto, chegou ao Brasil em meados dos anos noventa.

“Eu comecei a fazer stand up no ano em que a televisão começou a apostar no gênero,”disse Mazzi, em entrevista por correio eletrônico exclusiva ao Suma.

“Críticos? O maior crítico é o público. Ele é quem paga as minhas contas. Meu patrão.” (Rafael Mazzi)

Mazzi e seus companheiros adaptaram-se a uma onda que parece conquistar cada vez mais espaço no mercado atual da comédia brasileira. Hoje, além dos colossos programas da televisão aberta e de seus integrantes, como os comediantes do Clube da Comédia, o país fervilha em estilos diferenciados que, seguindo o vértice do stand up e outros gêneros similares, exploram o “universo” regional e seu humor popular. Em Belo Horizonte, por exemplo, já há seis grupos e vinte profissionais dedicados ao estilo, segundo o standupista.

O humor do stand-up atual também angareou polêmicas com a atitude da temática de choque, a exposição do humor negro e o humor onde tudo é válido. Mazzi não se atém às controvérsias. Apenas manda uma mensagem simples, “humor é humor e ponto final”.

“Humor é Humor. O comediante sabe de sua responsabilidade.” (Rafael Mazzi)

Cordial em seu e-mail, sempre disposto a responder sem papas na lingua e elaborando suas ideias com objetividade, o profissional em comunicação das massas tem vasta experiência em “palestrar”, vestido das peles de seus personagens quando atua, e quase despido, dando a face, quando sobe ao palco para apresentar seu stand-up. Soube ser preciso e conciso na formação de suas ideias, político em um ambiente onde a polêmica e a controvérsia exposta pelo politicamente incorreto pode ser muitas vezes cruel com o humorista. Esta matéria, portanto, é sobre Mazzi, sua Turma da Comédia, e sobre a perspectiva específica de um profissional em uma área que, por natureza, está sempre exposta ao olho do público. Público, aliás, que Mazzi categoriza como seu “patrão”.

Do Twitter de Rafael Mazzi ao Suma Irracional:

“Rir de você mesmo é o melhor! Comédia também é espelho da realidade de uma forma LÚDICA. Sair da monotonia do estresse do dia a dia.”

“Textos universais de HUMOR, aqueles MAIS POPULARES, independente de temas, é o mais aceitável. Sem palavrões é melhor.”

“A Comédia é a única profissão que requer comprovação imediata do espectador. Se você é ruim, é ruim. Se é bom, é bom.”

———————————————————————————-

Suma Irracional: Em sua obra como ator e comediante, de onde surgiu a ideia de partir para o stand up?

Rafael Mazzi: A ideia de apostar no stand up partiu da necessidade de investir na Capital dos Bares (Belo Horizonte). Estava ganhando muito pouco com o teatro e precisava ter um retorno maior. Pensei: temos de colocar novidade e entrar na moda que está conquistando o Brasil. O maior diferencial do humor hoje no Brasil se chama: Stand Up Comedy. Palavrinhas mágicas: Novidade, moda, diferencial.

SI: Você acha viável comparar o stand up dos Estados Unidos ao stand up do Brasil?

RM: Bem, tem muita gente que tenta fazer uma réplica do stand up americano no Brasil, mas temos de adaptar para a nossa linguagem. Eu não acho graça do stand up americano. Eles tem linguagem diferente da nossa para formatar uma piada. São culturas diferentes. Lá, eles riem do COTIDIANO deles. Aqui ,estamos em outro universo de observação. O brasileiro adora futebol e mulher. É mais aceitável você escrever piadas sobre casamento e partidas de futebol. O mineiro adora esses temas. Quanto mais simples você escrever uma piada, melhor!

SI: Qual é o gosto dos consumidores brasileiros do humor atual?

RM: Depende das regiões brasileiras. Sobre Belo Horizonte, depende do grupo, do local que vai definir a classe social de cada público. O mineiro é extremamente crítico. Temos de ser melhores a cada dia.  Mineiro não é burro.

SI: E o gosto do público brasileiro, no geral?

RM: Sem palavrões você conquista quem não gosta de palavrão e até quem gosta de escutar o palavrão.

SI: Você se adapta ao gosto popular, ou procura destrinchar as barreiras do gosto?

RM: Eu já experimentei me adaptar ao gosto popular. Classes A e B são públicos mais exigentes. Se fizermos alguma interação para essa plateia, temos de ir com mais cuidado, “pisando em ovos”, são mais reservados, não gostam de se expor. Um dia eu já invadi as barreiras do gosto e fiz do meu jeito para o público classe A e B. Não deu muito certo. Comecei a suar e pensar: ‘Da próxima, tenho de me adaptar.’

SI: Quais são as suas influências no humor?

RM: Eu sempre me inspirei nos textos de Fernanda Young, redatora do seriado Os Normais. Já havia visto os vídeos de Rafinha Bastos, Marco Luque e Danilo Gentili. Mas eu sempre baseei meu trabalho em minha personalidade, minha vida, nunca tentei copiar ninguém.

Si: Onde você se sente mais realizado profissionalmente? Como ator ou como standupista? Pode não ser justo perguntar isso…

RM: Os dois me deixam realizados. Eu gosto mais do Stand Up no teatro. As pessoas vão pra te assistir e estão concentradas. O stand up no bar é complicado, porque você concorre com a cerveja, com os amigos, com o garçon passando toda hora. O ator faz qualquer coisa. O standpiano tem seus limites. Por isso é mais completo o ator que cria textos stand up.  Por isso que eu misturo a química de fazer teatro com a magia do stand up.

SI: Como você caracterizaria a diferença entre atuar e fazer stand up?

RM: O segredo do stand up é você criar um personagem invisível para divertir as pessoas. Você está interpretando o tempo todo. É impossível entrar de “CARA LIMPA”, sem personagem. Não existe figurino, mas você cria um personagem interno, mais extrovertido, ou muito irônico, ou por demais doidinho. Se você está fazendo stand up, você está atuando.

SI: Humor negro e sarcasmo são, para você,  uma necessidade no stand up?

RM: Eu nunca pensei em um dia formatar um texto de HUMOR NEGRO. Mas é só olhar pra vida e ver que ela é justamente esse tipo de humor. Para formatar um texto, humor negro é conseqüência. Nós nunca sabemos onde a inspiração vai dar. Se o humor negro e o sarcasmo surgirem naquele texto específico, ele será bem vindo.

SI: Ao seu ver, há diferença entre humor de mal gosto e humor negro?

RM: Não consigo taxar o humor. Existe HUMOR e ponto final.

SI: O que você diria aos críticos que acusam humoristas que fizeram piadas de determinados grupos de serem pessoalmente contra esses grupos?

RM: Fizeram alguma acusação? Aprendi hoje que não posso defender ninguém. Sou político.

SI: Mas você tem alguma opinião sobre pessoas que associam o humorista ao racista?

RM: Não. Normalmente quando via algo errado que arrancava a dignidade das pessoas, eu era o primeiro a defendê-las, mas hoje aprendi que, se você é cachorro e vive dentro da jaula do leão, você tem de entender que ele precisa comer a carne primeiro, para te dar o osso. E enquanto você não é leão, você tem de passar a ser sustentado por ele, por mais que não aceite a política de vida dele. Humor é Humor. O comediante sabe de sua responsabilidade. Não colocamos “NOME AOS BOIS”. Se a carapuça serviu, não é problema meu.

SI: Faz sentido dizer que, enquanto houver preconceito, o preconceito será objeto de humor?

RM: O preconceito está na cabeça das pessoas. Estamos aqui para divertir as pessoas. Humor é Humor e ponto final.

SI: Tem alguma mensagem que quer mandar ao público de “Everywhere” e pros beagânos?

Quero anunciar que esse ano tem muitas novidades. A Turma vai passar de STAND UP para SHOW DE HUMOR. Humor é Humor. Quero a contaminação de outros gêneros do humor no meu bar. Sem preconceitos.

Acesse Twitter da turma @turmadacomedia

Facebook

A “Turma da Comédia” se apresenta todas as Terças-Feiras na Choperia Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Fontes: O Tempo e Uai.

Um Fã Clube encontrado pela net

Glorinha com Gana

23 quinta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Gana

≈ Deixe um comentário


Arte de Beti Timm 

Gana

Ando com gana
de grana
nem sempre se gama
em quem se ama
às vezes é preciso um jardim
pra parar
de invejar a grama
do vizinho
que é sempre mais verde
Ando com gana
de apertar
o pescoço do tempo
esgoelar
o sem graça
que anda
me surrupiando
minutos preciosos
momentos que seriam meus
por direito
Gana
de ter ganância
de ser interesseira
e descolar
um milionário
centenário
e possa
finalmente ter a grana
que mereço
herdeira
de bens
deitada na grama
do jardim
onde minhas cinzas
serão enterradas
Gana
de agarrar
a vida com as mãos
apertá-la até se esvair
até ouví-la guinchar
ganir
latir
gemer
quero trepar com a vida
esganá-la
como se esgana
um fio d’água

Glorinha Leão


Suma Pergunta

21 terça-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Humor Sem Limites

≈ 25 Comentários

#humorsemlimitesuma

Sei que muita gente lê e não comenta por aqui. Se precisarem de apenas uma postagem para comentar, se em nenhuma outra, usem as Suma Pergunta, por favor. A opinião, crítica, seja o que for que vier de vocês é simplesmente essencial.

O que vocês, leitores, acham engraçado?

Estamos cozinhando uma entrevista com um humorista que tambem faz stand-up e, enquanto ela não vem, que tal participar respondendo?

Até a próxima,

Jiló

Nota do Supra Suma: Os textos sobre o humor aqui no Suma são: O Caso de Bastos, e a Censura Midiática, em Três Atos, Campanha Humor Sem Limites, Se Fosse Homem e Humor Negro, Branco e Cor-de-Rosa.

Aguerra de Sexos – Suma Poêmica Porno

21 terça-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Gana

≈ 8 Comentários

Esse poema é dedicado a Sandra Camurça, que inspirou e inspira Eros, “vida”, sempre, em seu Casulo. É dedicado também a todos os que vem, sentem e pensam do sexo como o que é, algo belo, puro e necessário. Viva a vida!

Eu falo.
Você,
ao falo.
Eu enrolo.
Você,
planta arapucas
à rola.
O campo ao nosso redor
incendiado de Veras Primas e,
às folhas abrasadas,
dás lácteo entorno.
Os galhos das árvores, eretos,
fazem sombra às cajadadas.
Bem que temeste eu
não ter pique ao seu
pique-nique
nicomaquiano.
Eu, aqui, nada menos que aqui,
pensando
nos segredos do universo e,
você,
secretando, guarda
na saliva
todos os meus versos.

RF

Manchetes do Suma

19 domingo jun 2011

Posted by sumairracional2 in Gana

≈ 11 Comentários


(Não se esqueçam de visitar o texto-índice da palavra Gana [o país, ou as ganas]!)

“STF legitima Marchas da Liberdade. Já estão em processo de revisão os pedidos de legitimar o consumo de oxigênio, cheirar flores, e andar de mãos dadas.” (Tempos Liberais).

“’Não sou heroína,’ diz Heroína Amanda Gurgel, ‘nem nenhum outro opiato.’” (Mucho High Times).

“FHC é flagrado chorando ao telefone. Testemunha anônima diz que ululava: ‘Eu fiz de tudo, Lulinha, eu fiz de tudo pra você gostar de mim, mas essa de não me ligar no aniversário doeu, viu? Doeu muito!’” (O Desplomata)

“O CQC será cancelado em 2012, segundo especialistas. Os produtores do programa adiantam que Lázaro Ramos será contratado para preencher a grade horária com um programa original, onde crianças dizendo bizarríces serão entrevistadas”. (#humorsemlimites)

“Muitos manifestantes foram flagrados marchando à ré na Marcha da Liberdade!” (#humorsemlimites)

“Centenas de vagabundos foram barrados da Marcha das Vadias.” (Tempos Feministas).

“Após a goleada do Brasil sobre a grandiosa seleção da Romênia por 1 x 0, Mano Menezes declarou: ‘Estou surpreso com a quantidade de gols que conseguimos fazer.’” (Viva Brasil Cem Por Cento Totalmente Sempre Acima de Tudo Ame-o ou Deixe-o News, uma publicação de Galvão Bueno)

“Morre o moicano de Neymar. Testemunhas, que não querem ser identificadas com medo de retaliação, dizem que o meliante foi o topeticano que hoje cultiva.” (O Dia do Esporte)

Twittem #humorsemlimitesuma

Gana, a Palavra da Vez

16 quinta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Gana

≈ 5 Comentários

Quando começamos com a “palavra da vez”, nossa maior intenção era que a palavra estimulasse nossos leitores a projetar qualquer pensamento ou imagem baseado na palavra. A “palavra da vez” é diretamente extraída de um “tratado” da vida de ex-religioso e atual secular al chefote, e o estilo de ligar palavras aleatórias a vivências específicas, como ditam As Regras do Jogo, nasceu da brincadeira de infância que ele mantinha com seu amigo, Platão Carioca.

Pelas limitações dos então participantes iniciais aqui de casa, as publicações vinham em tempos possíveis, o que geralmente levava de duas a três semanas para cozinhar cinco ou seis textos. Com o tempo e a liberdade acadêmica (hiato, na verdade) de Roy Frenkiel, que acaba de terminar o bacharelado em Abril, e com as bandeiras que ele e eu resolvemos levantar, os textos ficaram mais frequentes, e acho até legal que isso tenha acontecido. (Vejam bem, eu ando meio de bom humor, mas não se acostumem.)

A “palavra da vez” continua, mas ela é só mote de pensamento. Querem usá-la, usem. Querem falar de outras coisas, falem. Querem xingar o Cói Noia, xinguem. Querem me xingar, já aviso que tenho como achar vocês e te fazerem engolir as palavras, mas fiquem à vontade pra tentar.

Os textos já não se limitam ao período da palavra, que fica no ar enquanto alguns textos específicos vão assando. Agora deveremos apresentar postagens mais frequentes, apesar de que ainda pode – por que não, mas esperamos que não – haver aquele hiato, como o acadêmico que o chefotésimo anda passando.

Os textos da semana estão até que tragáveis:

Mais humor e psicologia de um não especialista. Só ideias, as suas serão apreciadas. Humor Negro, Branco e Cor-de-Rosa aumenta nosso acervo.

A lusitana Carla Cook também voltou a contribuir (oba, oba), enviando um protesto bem manifestado contra o dito acordo ortográfico da unificação do(s) idioma(s), apontando O Verdadeiro Problema do Acordo.

O terceiro texto da sérire My Facebook Friends está no ar.

Eu ando mansinho e fofinho, podem crer, mas mesmo assim ainda pulo. O que Faz Jiló Pular explica a questão.

Beti Timm voltou a ilustrar nossa casa, dessa vez com a arte Ira, no poema Ganas, de RF.

Fiquem de bizu, mais Manchetes do Suma serão postadas ao longo desse período até a próxima palavra e, se algum outro escândalo rolar, estaremos aqui.

Buenas a todos,

Até a próxima,

Jiló

——————————————————
Brincaram de Foco:

Cecilia Campello:

O foco centraliza
Meu alvo em você

————————————————–
Glorinha Leão

Foco – Rotina

Olho as batatas
enquanto as descasco
E perco o foco
Destampo as panelas
acendo o fogo
olho o lume
E perco o foco
Molho as plantas
ligo a máquina
penduro as roupas
Lá se vai o foco

Cada gesto
cada tarefa
ingloria
inútil
que ninguém vê
Me leva
pra longe
desfoca
restringe
Minha alma
escritora
se perde
em tarefas
medíocres
diárias
comuns
Rotina
Retina
Desfocada

Desfoco
da alma
Enquanto faço coisas
que detesto
minha cabeça
focada
no papel que me aguarda
na escrivaninha
E
na Vida

Humor Negro, Branco e Cor-de-Rosa

16 quinta-feira jun 2011

Posted by sumairracional2 in Gana

≈ 15 Comentários

A psiquiatra Jacqueline Garrick concentrou grande parte de seu livro, Trauma Treating Techniques – Innovative Trends*, no uso do humor no tratamento de pacientes diagnosticados com distúrbios pós-traumáticos. Em seu capítulo entitulado Humor Negro, Garrick discorre sobre a experiência de classes sociais específicas e seu relacionamento com o humor negro nos Estados Unidos. Segundo Garrick, “diferente do ‘humor de forca’, sobreviventes que usam do humor negro enfrentaram condições de opressão e preconceito, mas não necessariamente aniquilação … Os escravos africanos criaram esse estilo de humor como um meio passivo-agressivo de contornar seus opressores sem correr o risco da retaliação.” Pouco adiante, Garrick complementa que “o humor negro existe,primariamente, quando um trauma é causado por ato humano, ou tem um culpado identificado” (Lipman)**.

Em outras palavras, segundo Garrick, que segue o capítulo prescrevendo métodos eficientes de usar o humor negro a favor da recuperação de traumas psicológicos, o humor negro só existe porque houve um crime ou um ato de opressão. O humor judaico, por exemplo, conforme Garrick explica (Lipman)**, interliga o humor negro ao “humor de forca”, usando a imagem judaica sob a ótica de seu maior opressor, Adolph Hitler. Nessa transformação (da tradução da imagem maléfica do opressor em uma piada do oprimido), diz Garrick, “[oprimidos] usam [do humor como] uma habilidade de lidar com seus conflitos, que alivia ansiedades, fúria e depressão”.

Humor é Relativo e Complexo

O que nos interessa aqui é tentar responder a questão (em prisma psicologico): Há algum tema que o humor não deva abordar?

A maioria de meus interlocutores encontraram alguma ou outra restrição ao humor, seja ele o holocausto, estupros ou outra espécie de atrocidade. Ouvi e li comentários como “adoro o South Park, mas mudo de canal quando passam piadas sobre (…)”; ou “adoro as piadas no contexto do desenho animado, mas pelo Twitter fica complicado definir”, já que a piada, de cento e quarenta caracteres, aparece descontextualizada. Em todos esses casos, o humorista, ou seja, quem expressa o humor, é o responsável pelo desagrado causado pela piada a ponto de ser associado ao criminoso da piada em si. Além disso, para a maioria dessas pessoas citadas, quem não sente o desagrado e ri é, no mínimo, leviano (para não dizer misógino, racista, anti-semita etc, em si) quanto à gravidade do tema.***

Para mim, entretanto, esse raciocínio é falho em mais de um nível:

1 – Pensar que o piadista é, por exemplo, misógino, é caracterizar alguém, nesse caso, desconhecido. Não sabemos exatamente qual são as óticas, paradigmas, “schemata” (cognição do ambiente ao seu redor), e certamente não sabemos o que pensam e sentem ou como se posicionam humoristas públicos perante os dilemas universais da vida. Mesmo que um fã ou espectador tenha razão caracterizando algum deles de misógino, não tem conhecimento empírico da pessoa. É uma opinião formada em relação ao caráter e integridade de outrem sem conhecimento íntegro desse outrém (preconceito).

2 –  Dizer que certos temas são engraçados no humor negro, mas outros não, é outra forma discriminatória. Quem sugere que há temas em que o humor ‘de forca’ ou negro é passível de condenação, e outros que não, cria um paradoxo. Quem faz a distinção entre, por exemplo, o humor direcionado contra a religião e a crença, e o humor direcionado a uma raça, justifica, segundo esse raciocínio, o ataque à fé de terceiros, mas não à raça (lembre-se que esse raciocínio parte da lógica que o humor negro sobre temas específicos é um ataque). A discriminação social por credo, raça ou status econômico é, para todos os efeitos, discriminação: Preconceito independe de posição na pirâmide hierárquica social.

3 – O argumento de que “quem ri de (…) não conhece a gravidade do assunto” assume, automaticamente, que quem conhece a gravidade do assunto não seria capaz de rir do mesmo, o que é também um preconceito. E mais: Conforme explica Garrick em sua pesquisa, esse argumento é diretamente contraditório à definição pragmática de humor negro. O humor negro só existe em consequência da existência de traumas e, segundo a psiquiatra, é produto dos traumas gerados pela opressão, ou seja, é uma das habilidades desenvolvidas por grupos oprimidos para lidar com seus conflitos (veja também o asterisco de Humor Inapropriado). Nesse caso, existe o mesmo preconceito atribuído aos piadistas, mas dessa vez atribuído a quem ri de suas piadas.

4 – Em clima de perseguições a assuntos sociais tidos como retrógrados, na aplicação contundente de uma censura metódica ao considerado politicamente incorreto, o humor é uma  das primeiras vítimas. Quando tratamos de estigmas originados em construções sociais, o argumento proibitivo dita, nesse caso, que o humor negro constroi o preconceito, que constroi o humor negro. A lógica também é falha: Segundo Garrick e suas fontes, a resistência (ou negação, trauma) ao preconceito construiu o humor negro, não o preconceito (o opressor) em si. A antítese do preconceito é o cerne do humor negro, não sua essência.

Humor Prejudicial

Garrick, depois do capítulo acima, traz uma sessão entitulada Humor Inapropriado****, no qual descreve até que ponto o humor deixa de ser saudável e passa a ser reflexo de uma negação. Vale lembrar, contudo, que ela fala especificamente de pacientes diagnosticados com distúrbios pós traumáticos, ou seja, ela fala especificamente do humor como uso em tratamento psiquiátrico desses pacientes. Para nossos propósitos, o prejuízo do humor é analizado utilitariamente, pesando os prós e os contras de e para todas as partes envolvidas, ou seja, todos nós.

É possível, de fato, que o humor como forma de expressão também seja usado como propaganda de uma ideia, o que para nossos exemplos levantaria a hipótese do humor negro ser usado, também, para perpetuar o preconceito. Isso, entretanto, não inviabiliza o humor em si. Apenas significa que, como todos os outros meios de comunicação e arte, (a música, o cinema, desenhos animados e charges etc) o humor também pode ser usado maleficamente. A diferença estaria, primordialmente, na fonte. Se um racista faz piadas de racismo está, por si, propagando o racismo. Quem assimila a piada ao racismo desconhecendo a fonte, no entanto, o faz por escolha própria. Se um político escreve cento e quarenta caracteres expressando misoginia ou racismo em seu Twitter, assimilamos a fonte, portanto reconhecemos a intenção. O mesmo quando quem twitta é humorista. Ambas percepções tem base no senso comum e conhecimento/cultura popular e, ainda assim, ter certeza do objetivo da piada é suficientemente complexo.

Ilustrando o que quero dizer: Walt Disney, seguindo a moda do Protocolo dos Sábios de Sião, publicou, durante o clima da Segunda Guerra Mundial e do Império Nazista, uma série de charges anti-semitas. Nelas, imagens de judeus apresentados como ratos ou demônios, ou rabinos sendo enforcados em estrelas de Davi, preenchiam as lacunas de seu portfólio ideológico. Tocando a mesma nota, nos Estados Unidos racialmente segregado havia uma série de desenhos publicados em periódicos regionais e cartazes espalhados em várias cidades apresentando o negro como um animal, ou como um estúpido ser irracional. Seguindo nossa lógica, esses desenhos, charges e propagandas não deixam de ser necessariamente racistas e anti-semitas. Com o conhecimento da fonte é fácil discernir a intenção, mas sem o mesmo, novamente, a percepção é subjetiva. Enfim, o que não é necessário é que as vejamos como quem as expressa. É possível, portanto, rir ou até apreciar essa “arte” sem delinear dela absolutamente nenhum sentimento anti-humanista. (Aqui vale um porém: Quando a fonte e a intenção é explicitamente discriminatória, como no caso de Walt Disney e os cartazes, a arte certamente não deve ser patrimônio público de uma comunidade que não quer ser vista como discriminatória. Não adianta vestir o uniforme do KKK e depois dizer que só fez brincadeirinha.)

Essa confusão ocorreu, deveras, em uma charge da capa do The New Yorker em que Barack e Michelle Obama apareciam pintados com roupas de muçulmanos, armados como se fossem terroristas. Como um desenho (ou uma twittagem) não se auto-explica, qualquer das interpretações são válidas: A) The New Yorker apresentou Obama e sua esposa como terroristas islâmicos; B) O periódico caçoou da oposição partidária que considera Obama e sua esposa terroristas islâmicos; C) Todo muçulmano é terrorista; D) Ironizando todos os que pensam que todo muçulmano é terrorista etc. A fonte é ambivalente nesse caso, já que o jornal é naturalmente informativo e sério, mas também é imbuído de humor negro e sarcasmo.

Finalizando, muitos podem concluir que é correto que o negro faça piadas de negros, o judeu de judeus, o homossexual de homossexuais e a mulher estuprada de seu estupro, mas não um branco de negros, ou um homem ou mulher, que jamais sofreram violência sexual, de estupro etc. Não é uma lógica tão falha quanto as acima exemplificadas. Meu argumento, no entanto, é que, especialmente em tempos de super-exposição a tudo em vias de hiper-comunicação, males sociais não afetam apenas a classe oprimida, mas toda a população. Só mulheres podem ser estupradas, mas faz sentido também dizer que o pai ou marido ou filho ou amigo de uma vítima de estupro também sofre o trauma. Portanto, potencialmente, todos os pais, filhos, maridos e amigos podem sentir grande empatia pelo medo de estupro. O mesmo sobre o anti-semitismo ou homofobia: São problemas que, direta ou indiretamente, afetam toda a população, e em um mundo que evidentemente marcha para a ideologia das igualdades, traçar um paralelo entre o anti-semitismo, racismo e homofobia é algo simples e disponível como produto ideológico popular. Assim, é possível que não judeus e não escravos usem do humor negro, judaico e escravo, para fins construtivos, de teor terapêutico ou por puro entretenimento “inocente”, catalizador do alívio das opressões.*****

Se na arte a dicotomia faz-se irrelevante e até mesmo prejudicial, no humor, a forma artística que se perpetua no absurdo, a dicotomia aparenta ser a única proibição.

RF

*Trauma Treating Techniques – Innovative Trends (pgs. 170-189).

** Garrick cita dois acadêmicos (pg. 176), Lipman e Khulman. O primeiro distingue entre o humor negro e o que Garrick chama de ‘humor de forca’. De acordo com Lipman, “ao contrário do ‘humor de forca’ que concentra-se em morte e aniquilação, o humor negro tende a concentrar-se no opressor e no assassino”. O segundo teoriza que “o ‘humor de forca’ [como o negro, viola] princípios normalmente associados a significados e valores humanos”.

***Parte do que faz a ironia e a sátira engraçadas não é o tema em si (estupro, genocídio, homofobia etc), mas sim o desconforto causado pelo tema. O desconforto é o punch line.

****(pg. 178) Na sessão, Garrick discorre sobre o perigo de permitir que o paciente se acomode em uma “zona de comforto”, onde seu humor é usado como “negação” de sentimentos que não consegue acessar de um modo mais maduro. Como vemos, entender o motivo do riso é muito mais complexo, com mais ramificações, do que entender o motivo da piada em si, mas psicologicamente, entender o motivo da piada também é complexo, e não pode ser julgado a valor de face. A fonte deve ser considerada. Se as formas de humor negro e ‘humor de forca’ existem como forma de tratamento psiquiátrico e podem ser definidas a favor da vítima e do ponto de vista de pessoas oprimidas, obviamente, sem precisar conhecer causas, o humorista sempre usará desses dois métodos, e a plateia deve considerar o que quer consumir.

***** Muitos acreditam que no Brasil a norma é achar que o assédio sexual é natural, ou que o racismo é correto, ou que a homofobia é normal. Independente da intensidade ou quantidade de racismo, misoginia e homofobia em uma dada sociedade, o conceito normativo ético (o que é certo e errado) parte de outra raíz. Se o preconceito é subjetivo, a constituição (e sua interpretação) de um regime é a ditadora das normas civilizatórias. Se é proibido, constitucionalmente, discriminar, a norma não é a discriminação, independentemente de outras carências e sintomas culturais. No Brasil, o racismo pode ser normativo, mas não é constitucionalmente correto. Em tempos, não acredito que a maioria dos brasileiros seja racista, misógino, homofóbico ou anti-semita mais do que o proporcionalmente comum na maioria das sociedades, inclusive a estadunidense. Acredito, sim, que a cultura e a norma moral da sociedade carece de desenvolvimento para que participe do conjunto de mentalidades vigentes em tribunais regionais, nacionais e o STF.

NA: Esse texto é válido apenas no contexto do humor negro, o humor “de mal gosto”, como é chamado, o “humor de choque, por choque e para choque”, mesmo o que eu não aprecio, e mesmo o que acho infantil ou primitivo. Muita gente pensa, pela bandeira #humorsemlimite, que sou o maior fã do CQC. Sempre que assisti, ri, mas não me considero fã de carteirinha, e não devo ter assistido dez capítulos completos. Os últimos, os mais polêmicos, só vi depois das reações gerais, e então formei meu pensamento. Para mim, pelo menos, esse texto é válido por tudo que li e vi.

Quer ler um pensamento totalmente oposto? Vá lá.

← Posts mais Antigos

Tópicos recentes

  • Esta Semana, no Suma
  • O Primeiro Mandato de Obama – Parte 4
  • O Primeiro Mandato de Obama – Parte 3
  • O Fantasma de 2008
  • Obama, Levemente Liberal

Arquivos

  • maio 2012
  • abril 2012
  • março 2012
  • fevereiro 2012
  • janeiro 2012
  • dezembro 2011
  • novembro 2011
  • outubro 2011
  • setembro 2011
  • agosto 2011
  • julho 2011
  • junho 2011
  • maio 2011
  • abril 2011
  • março 2011
  • fevereiro 2011
  • janeiro 2011

Meta

  • Cadastre-se
  • Fazer login
  • Posts RSS
  • RSS dos comentários
  • WordPress.com

Blog Stats

  • 351 hits
Anúncios

Cancelar