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Arquivos Mensais: setembro 2011

Sobre os valores consumo e a assimetria informacional

12 segunda-feira set 2011

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Cresce o Crescido

Nossa Vida, Nossa Escolha

O país praticamente triplicou seu número de formandos em diplomacia, e seu número de diplomatas não só explodiu, mas a eficiência no Itamarati melhorou. Os Estados Unidos, em seus anais midiáticos e governamentais, trata o Brasil como um país de mercado fértil e de capacidade de participar no cenário internacional com certa agressividade. Mais do que isso, a hegemonia mundial começa a parcialmente depender da hegemonia no sul do continente.

O Brasil encontra-se em quinquagésimo-terceiro lugar em um ranking mundial de competitividade, o World Economic Forum, ou WEF, subindo cinco postos em relação a 2011. O Chile ainda está no topo dos países da América do Sul, em trégismo-primeiro lugar. A relação do Brasil perante o mundo ainda é preocupante se levarmos em conta sua capacidade econômica, mas o quadro é de parcial melhora.

A Embraer acaba de conquistar o ar com um jato movido a bio-combustível que pode ser extraído de componentes naturais abundantes, um longo passo para o avanço irrestrito dos combustiveis naturais e da independência do petróleo. No mesmo ramo da independência energética, há pouco tempo descobriu-se muito da matéria no pré-sal das Bacias dos Santos, Campos e Espírito Santo, algo que enaltece a posição do estado em um mundo cada vez mais inter-dependente.

Há uma tendência crescente da injeção de capital estrangeiro no país. Isto se deve, em grande parte, às manobras governamentais que impediram a marcha à desastrosa crise financeira/econômica que assola a Europa e os Estados Unidos. O Brasil é considerado, atualmente, um dos países do Sul Global de mercado mais competitivo (o segundo mais competitivo da América Latina). Com a abertura do mercado brasileiro, folgando algumas restrições e permitindo cada vez mais capital estrangeiro a competir no mercado interno, mais empregos serão gerados, e a competitividade aumentará, assim como a eficência do setor privado, que ver-se-á obrigado, não como antes, a satisfazer certas expectativas de consumidores. Certo? Nem tanto **.

 

Assimetria Informacional e Protecionismo

 

Nesse sentido teria motivos para ser otimista. Afinal, acreditaria que em breve as companhias provedoras de serviços telefônicos, internet a cabo ou banda larga, automóveis e esperançosamente eletricidade e gestação de infra-estrutura básica teriam de competir e melhorar preços e serviços*. Contudo, apesar de serviços de proteção a consumidores, o brasileiro comum parece não saber da total falta de necessidade de se pagar chamadas telefônicas pelo minuto ou pulso. Parece que ainda não sabe que a Internet pode ser mais rápida, mais eficiente, e que quando empresas prometem certo padrão tecnológico, devem cumprir no mínimo o prometido, e que podem prometer bem mais e a mais regiões e classes sociais do vasto país. Quanto a automóveis, parece normal ao brasileiro comprar um carro pelo preço de três em países de similar potencial mercadológico.

Sou menos otimista, portanto, por dois motivos:

Primeiro, porque a assimetria informacional é exuberante no estado. A globalização comunicativa (especialmente com a expansão da Internet) ajuda, em todos os países onde a comunicação livre é disseminada, a diminuir a assimetria, ou assim seria no Brasil também. No entanto, há uma frase que ouvi de meu mentor mor que resume o dilema da globalização comunicativa e o processo cultural brasileiro: “O Brasil chegou à era da informática antes de passar pela era da alfabetização.” Com 14 milhões de analfabetos constatados pela UNESCO em Março deste ano, o Brasil é o oitavo país no mundo no quesito. Quanto a consumidores de Internet, somos os quintos do mundo, com mais de setenta-e-três milhões de usuários acima dos dezesseis anos de idade. A desigualdade social está escancarada no aprofundamento desses dados, evidentemente.

Há outros fatores envolvendo a assimetria informacional. Para o consumo, tanto quanto para a corrupção, a assimetria é nociva. Basta ler o trecho a seguir, publicado no Observatório da Imprensa no dia 30 de Junho de 2011, para entender um dos fatores que levam à assimetria:

“Sociedade refletida na Lei

O cientista social argumentou que a pluralidade da sociedade brasileira, com inúmeras variações culturais e diferentes códigos de existência moral, não impede a existência de convergências e a universalização de algumas crenças e referências que podem, progressivamente, tornar-se consensuais. Uma das formas de se chegar a este ponto é a recepção de alguns ‘consensos morais’ por parte do Direito, pois este é afetado pela moralidade. O cientista social explicou que certas questões que são tidas como intoleráveis do ponto de vista moral, com alguma freqüência, acabam tendo amparo e acolhimento na dimensão legal do país, como a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Lessa destacou também a ‘rarefação’ da sociedade brasileira na direção de certas posturas diante de valores morais. ‘Isso tem a ver com a relevância que a imprensa pode ter neste processo. É evidente que a imprensa tem um papel importante, a capacidade que ela tem de levantamento, de apuração, mas devemos levar em conta o seguinte: temos muito pouca imprensa no país. Cidades importantes do Brasil estão reduzidas a um jornal com capacidade investigativa, que é o caso específico do Rio de Janeiro. O número de leitores de jornal no Brasil ainda é pequeno’, criticou o cientista social. Com a necessidade de estar atenta a diversas esferas da sociedade, a imprensa não tem capacidade para cobrir sistematicamente todos os casos de desvio de conduta. ‘Mesmo com a imprensa ativa, existe a certeza do ponto de vista do [malfeitor] de que em algum momento o tema vai esfriar, e outro ‘malfeitor’ vai ocupar o lugar no proscênio’.

Francisco Whitaker sublinhou que a imprensa é o elo entre políticos e funcionários públicos e a sociedade. ‘O grande drama nosso neste processo todo de improbidade, de corrupção, é que a sociedade em que vivemos é uma sociedade voltada toda ela para ganhar dinheiro’, lamentou. Muitos ingressam no governo com a perspectiva de prestar ou representar os cidadãos, enquanto grande parte busca o ‘tesouro público’. A imprensa, na avaliação de Whitaker, deveria chamar a atenção para a ‘cultura de corrupção’ que existe no Brasil.”

Meu segundo calo pessimista está na aparente tendência brasileira, vendo-se crescer, de acelerar o protecionismo de seu mercado. O incentivo da produção interna é, deveras, valioso. É um dilema econômico saber equilibrar o estímulo da produtividade interna e seu relacionamento com importações. A questão é: O Brasil tem tecnologia, infra-estrutura e conhecimento suficientes para criar produtos classicamente importados pelas classes mais abastadas, como computadores e eletrodomésticos? Além disso, a qualificação da indústria brasileira reflete a tendência de oferta e demanda do mercado brasileiro, portanto a relação de custo benefício vis-à-vis os preços e serviços oferecidos a consumidores? No momento não, segundo o próprio índice citado no início do texto, o WEF. É benéfico ao consumidor que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, queira a todos os custos coibir a importação e estimular a produção interna? Temo que há um balanço mais justo a ser atingido.

Como vem reportando O Estado de São Paulo desde o dia 6 de Setembro:

“A presidente afirmou que seu governo não permitirá ‘ataques’ às indústrias e aos empregos do Brasil, nem vai deixar que artigos estrangeiros concorram ‘de forma desleal’ com os produtos nacionais.”

Quão leal pode ser a competição, se a qualidade dos produtos e gestação de serviços brasileira ainda tropeça nos estímulos proporcionados pela assimetria informacional? Quão leal pode ser a competição entre produtos de qualidades tão assimétricas?

Valores e Consumo

Uma das áreas que expõem mais a iminência da ausência da identidade civilizatória é quando compramos o mesmo leite, da mesma marca, com a mesma data de validade, mais caro em determinado local e muito mais barato em outro. É até lógico que comerciantes em pequenas e grandes empresas se aproveitem do status econômico de certa camada social para cobrar mais caro pelo mesmo produto. Isso acontece em todo o mundo, e segundo o economista Steven D. Levitt, autor do best-seller Freakonomics, tudo depende do estímulo do comerciante e sua percepção ao estímulo da clientela***. O problema é que há quem compre por valores absurdos, que não estão ausentes em outras sociedades, mas são proporcionalmente muito mais presentes na sociedade brasileira do que em sociedades consideradas desenvolvidas. Esses valores, majoritariamente, movem a economia brasileira.

Há quem se sujeite a pagar mais caro pelo leite, por biscoitos e quanto mais por roupas e outros acessórios, somente por consumirem em determinada loja, assim auto-classificando-se “finos”, de “alta sociedade”, por comprarem, justamente, em locais onde o resto da população, os bem menos abastados, jamais entraria à não ser à procura de sub-empregos. Isso faz com que o conceito de capitalismo no Brasil seja deturpado. Enquanto o capitalismo funciona melhor em regiões onde a concorrência obriga a melhoria de serviços e preços, no Brasil a lógica é falha pelo tipo de incentivos almejados, recalcados nos moldes da desigualdade social. Nesse sentido, a diminuição da desigualdade não sana, por si, a insanidade desse comportamento consumista, já que as classes que ascendem socialmente ainda se espelham nos mesmos valores das que já ocupam os ápices consumistas. Mesmo sendo menos eficientes e mais caros, as instituições comerciais se aproveitam dos valores brasileiros para deformar a lógica do consumo (uma tendência natural que só pode mudar se o comportamento de consumidores mudar em grande escala).

Esses valores sinalizam a falta de identidade social brasileira. Enquanto houver quem prefira pagar mais e sofrer pior serviço somente pelo nome da instituição ou sua localização em determinadas regiões entituladas “nobres”, não haverá capitalismo funcional no Brasil. Pior, não haverá a eficiência requerida do setor privado, que até se esforça um pouco para atender os mais ricos, mas que no geral cria uma infra-estrutura claquética.

Nesse quesito particular, lembremos da grande empresa Votorantim, de Antônio Ermírio de Moraes. Até o fim dos anos oitenta, a Votorantim mantinha monopóilio sobre o cimento, e só quem tinha bom capital podia construir com o material, já que a estipulação dos preços era altamente arbitrária. Com a quebra parcial do monópolio (com a filosofia de economia externa do presidente Fernando Collor******) e maior abertura do mercado para a concorrência estrangeira, a Votorantim não faliu, mas sofreu graves perdas e foi forçada a se modernizar drasticamente (não é de se espantar que a empresa envolveu-se diretamente nos escândalos corruptivos da curta presidência de Collor). Ou seja, é evidente que haja uma ilusão da oferta do produto pelas reações dos monopólios nacionais à entrada da concorrência internacional. Reagindo desmedidamente à “ameaça da concorrência”, a produção é nem sempre proporcional à demanda e, dependendo da região (como o Mato Grosso, que só recentemente contou com maior abertura do mercado para o cimento), o monopólio segue super-estipulando a oferta*******, e assim o preço do produto. Assim ocorre com a telefonia, a eletricidade, os automóveis e o acesso à Internet. Não há surpresas, nesse relance, que a infra-estrutura brasileira esteja, ainda, tão estagnada.

RF

*No momento a crise internacional e a instabilidade dos mercados devido às crises fiscais dos Estados Unidos e países europeus pode ser desfavorável principalmente ao setor automobilístico, mas a tendência é de maior abertura ao mercado internacional, de todos os modos.
**. (Aqui uma ressalva: É claro que o crescimento industrial em cidades menores tende a impedir a fonte de renda clássica da população local, e que em um sistema de total desregularização os riscos do crescimento são no mínimo comparáveis aos riscos da estagnação – não adianta só crescer, há de se crescer bem e visando, justamente, o resto da população envolvida, não só as elites).
*** Nos EUA é comum pagar mais caro pelo mesmo produto em lojas pequenas e centros comerciais de menor fluxo. Assim, empresas como o Wal-Mart levam a vantagem no consumo geral da população, mas no que diz respeito ao consumo comunitário, as lojas sobrevivem pela conveniência de sua proximidade, e cobram mais caro por ao menos dois motivos transparentes:
1 – Não competem bem com grandes empresas como o Wal-Mart em sua relação de lucro. Por pagarem mais caro pelo mesmo produto, revendem mais caro, e ainda assim lucram bem menos do que as grandes empresas.
2 – A própria conveniência da proximidade garante uma pequena vantagem competitiva em comunidades regionais. É o clássico exemplo do festeiro em meados de festa, que já comprou e consumiu duas dúzias de latas de cerveja do Wal-Mart, mas que, já embriagado e exausto, corre à loja da vizinhança para reabastecer o estoque da ocasião.

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Brasil, Brasil – A Terra do Nunca?

05 segunda-feira set 2011

Posted by sumairracional2 in Uncategorized

≈ 18 Comentários

 

Nota do Supra Suma: Este texto delinea uma nova vertente do blog, que se dedicará, de agora em diante, a falar do Brasil. Falar não, criticá-lo. Quem não quer ler críticas à amada pátria, leia outra coisa. Abrax

 

Tiririca - Sera ele o heroi do Brasil?


Pelo título já é possível captar o clima do texto. O clima, que Friedrich Nietzsche adoraria, é de incerteza na mente deste escritor. Minhas primeiras impressões após pouco menos de um mês de São Paulo não são só pessimistas, mas também preocupantes porque o que é visto de bom, que não é pouco, é mal cultivado de todos os modos.  O trabalho de tentar desenrolar o emaranhado de realidades paralelas não é tarefa fácil. Atônito, fiquei quase um mês inativo justamente pelo pequeno estado de choque instalado.

Antes de mais nada, acredito que o diferencial de minha observação está não no fato de ter morado no exterior. Muitas vezes podemos tirar o brasileiro do Brasil, mas não o Brasil do brasileiro. Meu forte é justamente não ser brasileiro, e ao mesmo tempo não ser estadunidense nem israelense, já que em nenhum desses estados-nações sou geralmente aceito como um. Na condição de estrangeiro eterno, acredito que possúo maior objetividade quando afirmo o que afirmo. A maioria do que digo não só fez sentido a habitantes nativos desse grande país, mas as reclamações e centralmente o agouro fazem-se mais presentes na boca deles do que na minha.

Em primeiro lugar, nos outros dois países em que fiz casa e criei alguma raíz, está claro que sobra o que falta no Brasil em todos os setores. São dois os conceitos dos quais o estado e a população veem-se carentes, que superam a própria necessidade da educação.

O primeiro, o conceito de cidadania, ou o que chamo de conceito civilizatório. Não existe, no Brasil, um conceito bem formulado e elaborado de civilização. Na maioria dos lugares, na maioria dos setores, se não em todos, o que encontramos é a sobrevivência pura de todas as camadas sociais. Dos mais ricos aos mais pobres, o indivíduo e suas “massas privadas” (seus bandos, outro conceito a ser elaborado adiante) criam sistemas particulares de sobrevivência. Não existe uma convivência social propriamente dita, e sim contínua e contígua desconfiança social. Imaginemos, portanto, uma selva e todas as espécies animais que nela sobrevivem. Em bandos, os animais de um grupo (às vezes da mesma espécie) precisam travar disputas inacabáveis por território seguro, comida e acasalamento. Há sociedades animais que conseguem, por capacidade neuronal e por circunstâncias ambientais específicas, criar sistemas mais complexos e até mais pacíficos de convivência com o eco-sistema. Ainda assim, não podemos bem argumentar que esses animais criaram uma civilização, com um sistema aplicável não só aos membros de seu grupo, mas nem que seja a todos os membros de todos os grupos da mesma espécie. Acredito que o Brasil segue o mesmo traço evolutivo. Os mais fortes sobrevivem justamente por conseguirem vencer a disputa por território, comida e acasalamento, enquanto outros mais fortes conseguem construir sistemas particulares que os protegem, em cerco elétrico muitas vezes, do mundo selvagem externo. Isso, para mim, não constitui uma civilização, e sim um reino animal, onde os sobreviventes são ora aqueles que toleram mais a violência (não necessariamente os mais violentos, já que estes geralmente acabam perdendo a vida nas mãos da violência dos bandos rivais), a dor e incongruência de seu meio ambiente, ora aqueles que se isolam de tudo isso por meio de fluxo de capitais.

O segundo conceito inexistente é o da democracia. Lembro-me de uma discussão acirrada em uma comunidade virtual com simpático vascaíno, quando afirmei que “a democracia não começa nem termina nas eleições”. Parece que até mesmo essa pequena ideia, que realmente é tão genérica que pode ser facilmente justificada para qualquer verborragia, passou muito alto sobre sua cabeça. A democracia não começa nas eleições, como muitos países fazem para agradar os grandes poderes, especialmente os Estados Unidos, porque votar é um processo que requer, se não educação acadêmica, no mínimo uma noção de cidadania e mais mínimo ainda o conceito de civilização. Se eleitores não entendem a dinâmica do sistema social que populam e ajudam a perpetuar, e votam apenas de acordo com seus interesses particulares ou pelo grito de seus bandos,  não é de se espantar que o Brasil tenha dezenas de partidos políticos sem nenhum verve ideológico discernido, e que as eleições sempre terminem entre as elites, que conseguem, na maioria do país, “comprar” os votos de seus eleitores. Quantas vezes não ouvi eleitores dizendo que votariam em fulano ou cicrana pela “liberação dos bingos”, onde esses eram empregados, ou porque eram contra a privatização de certos setores pelos quais eram contratados pelo estado? Incontáveis… Por outro lado, intelectuais que geramente assúmem alguma postura ideológica clara, votam em base na ideologia e no quão bem esta possa se encaixar à realidade política do país. Assim, não é incomum que o velho petista siga sendo petista mesmo tendo o partido consumado-se na geleia sistemática dos anais governamentais. Não é raro encontrar tucanos acreditando piamente na eficiência de um governo que jamais se mostrou eficiente não pelo seu direitismo, mas porque jamais obedeceu a qualquer lógica civilizatória, portanto sempre baseou-se em “mearrumômetro”. Jamais houve, na história do país, um governo menos corrupto. Talvez houve governos menos eficientes em sua corrupção, e governos mais expostos pela oposição (no caso da oposição aos petistas, os donos da grande mídia), tão corrupta quanto.

No Brasil reina o conceito da lei de bando, comum entre os animais. A proximidade de algumas famílias, alguns bairros, e alguns torcedores de futebol permitem uma assimilação social minimazada, onde a “civilização” torna-se o bando. Onde mais comum isto do que entre torcedores de futebol? Afinal, os termos “república popular corinthiana” ou “nação rubro-negra” são comuns entre os torcedores, a mídia, e todos os outros segmentos sociais, que de modo direto ou indireto veem-se envolvidos. Essas nações são, obviamente, fragmentadas. Nem todos os torcedores corinthianos simpatizam-se entre si. As torcidas organizadas geralmente clamam mais poder do que fanáticos comuns, e em alguns casos vinculam-se descaradamente a grupos de crime “organizado”. Pasmo, testemunhei o conto verídico do rapaz espancado em estádio por ter os cadarços alvi-verdes, e não alvi-negros, mesmo sendo corinthiano filho de corinthiano. Portanto, os bandos se formam e se defendem como fazem estados com outros estados, a todos os custos, em grupo, por associações muitas vezes randômicas e herméticas. Em alguns casos, no modus sobrevivendi no qual vivem os brasileiros, os bandos promovem avanços sociais relativos. Na maioria deles, no entanto, o que se cria é uma mentalidade separatista constante. Grupos fascistas, perpetuados por seus bandos, encontram sempre justificativas fascistas, já que grupos formados por ativistas sociais ou por minorias em sociedades praticam um fascismo invertido. Em vias de regra, para as feministas todo homem é um potencial estuprador. Para os socialistas, todo capitalista é maldito. Para os ateus, todo crente é uma ameaça. O vice-versa subentende-se.

A mídia brasileira é extremamente infantilizada, como está o mediano brasileiro comum. Citar a última parte da frase anterior é essencial, porque por um lado (talvez o mais importante), a população consome e a mídia vende, ou seja, se consumisse outras coisas a mídia se adaptaria. Contudo, seria lógico que aqueles que atingiram o processo de seleção para atingir patamares de formadores de opinião, também atingiram, antes, algum nível educacional e de maturidade básicos. Não funciona assim no Brasil. A mídia é claramente desinformada. Comentaristas comentam o Brasil e o mundo, não com o etnocentrismo básico encontrado nas demais mídias internacionais, mas com visões estreitas e particulares ao movimento da indústria que os contrata, e com seus próprios preconceitos. Pior do que isso é a preguiça encontrada em quase todos os setores, privados e públicos, e que não deixa de atuar na mídia brasileira. Antes que me crucifiquem, não falo da visão de preguiça paternalista, atribuída sempre `as classes dominadas em quase toda civilização da história mundial.

Falo sobre uma preguiça lógica e justificável, já que tanto o governo brasileiro quanto empregadores em setores privados exigem muito mais de seus empregados do que se dispoem a remunerar. O governo cobra impostos absurdos, coíbe o uso de mercadorias estrangeiras de todos os tipos com seus impostos ainda mais absurdos, alimenta os órgãos podres de tão ineficientes em uma burocracia cíclica desesperadora, e não oferece praticamente nada em troca. Patrões exigem as mais longas horas, a mais alta dedicação e eficiência de seus empregados, mas não retribúem com benesses primárias e salários dignos. O que acontece é o verdadeiro impasse entre as massas trabalhistas e a elite. De um lado, a elite exige uma competência que não tem, e de outro, trabalhadores fazem questão de não tê-la, pois exigem que ela venha das elites. Não existe uma solução menor ao impasse do que a busca da competência concomitante das classes. Caso contrário, “dar um jeitinho”, “fazer nas coxas”, e ter preguiça de pesquisar (como faz a mídia) ou fazer um pouco além do que o trabalho naturalmente requer, sempre fará parte do pensamento de ambas as classes de funcionalismo capital.

Voltando à mídia, a preguiça da pesquisa é iminente. Um dos exemplos é como a maioria dos comentaristas, sejam esportivos, de economia ou entretenimento, tem uma ideia rasa sobre a crise econômica nos Estados Unidos (e no mundo), porque parecem torcer para que a situação econômica e social nos Estados Unidos lembre, nem que em resquícios, a situação de seu país. Um dos comentaristas esportivos disse, sem titubear, que “apesar da crise econômica os estadunidenses conseguiram voltar a conquistar medalhas” em uma categoria de atletismo. Como podem eles não saber o que uma crise econômica em um país como os Estados Unidos signifique é até compreensível. O que não entendo é como eles não conhecem a infra-estrutura desportiva do país mesmo após décadas de hegemonia competitiva. É como se a crise econômica, em suas mentes, signifique que as favelas começaram a tomar conta das cidades, e que todo centro atlético é usado como cracolândia. Talvez pensem que o mundo acabou para os Estados Unidos. Se torcem para que o país deixe de ser hegemonia em suas vidas, não entendem nem pelo que torcem.

O texto, como disse, seria e é longo. Desagradável até, imagino, para aqueles que ainda amam o Brasil. Eu, por exemplo, ainda o amo. Mas se antes tinha a ideia de que há soluções para essa bagunça, hoje duvido. Não da existência de medidas que solucionam esses problemas, mas da capacidade de um grupo de quase duzentos milhões de individuos, não separados por segmentos religiosos e cultos adversários, mas por bandos, randômicos e herméticos, de unir-se sob um único conceito civilizatório e sequer enxergar a necessidade de usar essas medidas. Quando falam sobre a educação, minha resposta parece nojenta, mas é sincera. Educar quem, se depois de educados nas instituições que ainda precisam ser construídas, voltam para a deseducação de suas casas?

Ainda falta, contudo, muito a dizer. Ainda não citei a surreal violência e a convivência passiva-agressiva da sociedade, que não só estimula a violência, mas a acolhe, fornecendo a meliantes o ambiente mais propício para criar vítimas. Sim, o brasileiro comum aceita bem o papel de vítima. Muito melhor, diga-se de passagem, do que os criticados judeus que supostamente (quem afirma isto ignorante é, ao extremo) não reagiram à SS na Segunda Guerra Mundial.

As coisas boas, sim, estão presentes em minha mente, mas ausentes aqui. O próximo texto será dedicado também a elas, e quem sabe aos poucos elaboramos os detalhes aqui traçados. Minha ideia ainda pode mudar. Duvido.

 

RF

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